
Encontrar a Fabiane foi um doce presente. Ela veio em um momento cheio de sincronicidades para concluir uma cura que já estava a caminho. Quando procurei a terapia de vidas passadas, tinha um problema específico em mente, mas acabei obtendo diversas respostas. Vou comentar aqui a respeito de algumas delas.
A primeira vida lembrada por Fabiane falava de uma vida na Alemanha, em que eu era uma mulher dinâmica e cheia de projetos, mas muito frustrada por não conseguir atingir alguns objetivos profissionais. Nessa vida eu também tinha reuniões secretas sobre questões de espiritualidade e me tornei professora. Fabiane não sabia absolutamente nada a meu respeito, mas eu recentemente chegara da Alemanha, onde fui contemplada com uma bolsa de estudos por 7 meses. Essa frustração em não realizar projetos era algo que se repetia nesta vida, antes em outros projetos, e agora, especificamente um problema recorrente de não aprovação da minha atual tese de doutorado junto à minha orientadora. E ser professora universitária é o meu atual projeto de vida. E sobre a questão espiritual, desde muito cedo nesta vida presente eu acabara sendo desperta, pois não me contentava com as respostas das religiões tradicionais e busquei um caminho alternativo logo aos 13 anos. Eu realmente, desde aquela época, não tinha a opção de duvidar da beleza e da grandiosidade da vida e que ela é repleta de possibilidades, pois já me sentia muito amadurecida nas coisas do espírito e com a estranha sensação de que a vida era justa, mesmo quando estava em pleno sofrimento.
A segunda vida lembrada por Fabiane tratava de uma existência na Roma antiga, em que perdi meu filho, roubado ainda criança para servir de escravo, e também o marido, escravo e gladiador que morreu em combate. Procurei aquele filho até a velhice, sem jamais encontrá-lo. Isso explicava o medo de perder pessoas, de que elas morressem; a negação com a maternidade na vida atual; a estranha falta de alguém que eu não sabia quem era e, depois, um sonho que tive na adolescência e na época não entendi o significado, exceto que se tratava de um encontro espiritual. Por volta dos meus 18 anos, certa manhã acordei banhada em lágrimas. O peito explodia em uma alegria lancinante, mas eu não entendia o por quê de tanta felicidade. No sonho, extremamente lúcido, algumas pessoas, como em um encontro marcado, me traziam um garotinho de uns 7 ou 8 anos e eu rebentava em lágrimas apenas em vê-lo. Foi um encontro lindo e sentido. Lembro com muita força do abraço e que ele me disse: “No momento oportuno, iremos nos reencontrar”. Aquilo me marcou muito. Agora, eu tenho certeza que se tratava do meu filhinho perdido em Roma. Aliás, quando eu conheci Roma, no começo deste ano, lembro de ter estado muito pensativa e um desses pensamentos foi: Será que já vivi aqui? Havia certa melancolia, embora não fosse uma tristeza. Lembro que ao chegar ao Brasil, comentei com meu irmão mais velho: “você ia gostar muito de Roma, sabe. Estive no Coliseu e lembrei de você quando estava lá”. Ele não fez uma cara muito feliz; lembro também que ele sempre repudiou o Joaquin Phoenix pelo papel interpretado no filme Gladiador. Meu irmão sempre foi revoltado porque o outro homem perdeu a mulher e o filho no filme; ele dizia “não gosto desse filme, não suporto olhar pra cara desse homem”. Eu lembrei recentemente que meu irmão foi meu marido naquela existência, morto em combate contra a vontade como gladiador. Inclusive, na vida presente, ele traz uma integridade tão robusta sobre a vida familiar que, certamente, também é reflexo daquela vida.
Para além dessas questões, havia uma situação específica que me levara até Fabiane e para a qual eu mais buscava um entendimento, pois percebia que os sentimentos que eu tinha sobre tal relacionamento eram muito mais intensos do que olhando superficialmente a situação em si despertaria. Havia uma relação em minha vida que já se estendia há 5 anos, na qual a pessoa sempre voltava ao meu caminho, mas sem propor um comprometimento, e minha irredutibilidade diante disso. Mesmo assim, eu não tinha forças para sair da situação e parece que algo me impelia para ele, e a ele para mim, de alguma maneira. Em vidência, Fabiane viu que já estávamos ligados há algumas vidas, e que nesta presente, havia um Acordo Espiritual de um relacionamento mais profundo, algo como um casamento, que deveria durar em torno de 8 anos, para limpar o carma de outras vidas. Porém, a outra pessoa mudou de ideia, fugiu ao acordo, quando as coisas começaram a acontecer. Lembro que desde que nos conhecemos, a conexão foi bastante forte, tanto que até comentamos sobre vidas passadas. Em uma das existências que Fabiane viu, ficamos juntos até o fim da vida. Uma vez ele me disse: “Sinto como se já tivesse vivido muitos anos com você no mesmo teto”. Logo em nosso primeiro encontro, eu disse: “Vamos brincar que eu sou uma freirinha e que você está indo me buscar na escola”, ao que ele respondeu, “Então, eu vou roubar você”. Em lembrança espontânea, confirmada depois por Fabiane, me vi como uma menina em um colégio de freiras, onde essa pessoa era meu tio e tutor, de confiança dos meus pais. Era ele quem me buscava aos finais de semana. Quando eu tenho por volta de 15 anos, e ele 30, iniciamos um relacionamento clandestino que acaba tragicamente 3 anos depois; muitos detalhes daquela vida correspondem a características da vida atual, até em coisas aparentemente sem sentido. No dia em que tivemos a conversa derradeira na vida presente, ele me disse: “Você não é menor de idade, eu não tenho que ter a sua tutela”. Foi uma frase totalmente fora de contexto. Mas eu já havia tido a lembrança e intimamente compreendi. Havia também recorrentes relacionamentos proibidos, em que ele não podia ou não queria me assumir e mantínhamos as coisas escondidas; de minha parte, memoro sentimentos negativos semelhantes aos que tive desta vez. O trato dessa existência era ter um relacionamento saudável, para corrigir e limpar vários problemas que fomos acumulando em nossa relação e que deixaram resquícios em ambos. Talvez por isso eu não conseguia encerrar isso dentro de mim: meu espírito queria muito cumprir o Acordo Espiritual, e o dele sabia que também tinha se comprometido, por isso voltava. Conhecer a verdade maior, os fatos por trás da dor, me deixou tão fascinada que, aquilo que em outra época teria me feito remar muito tempo no sofrimento para tentar entender, parece que foi tirado com a mão, e embora reste alguma tristeza pelo afastamento definitivo, há também uma leniência em saber que cada pecinha se encaixa no maravilhoso quebra-cabeças da vida e que sempre teremos a oportunidade de devolver ao seu lugar aquilo que tiramos, assim como ser restituídos daquilo que julgamos um dia alguém ter nos tirado. Saber sobre as vidas passadas e no que elas ainda nos afetam, afinal, são memórias que sempre farão parte de nós, e dá a compreensão profunda de que todo sofrimento desta vida é apenas um instante na eternidade – mas não apenas teoricamente, e sim como uma certeza do espírito, o que traz a percepção bonita de que estamos apenas como passageiros em um vagão do trem e na próxima estação haverá sempre despedidas e reencontros.